É consenso: para liderar um grupo, um negócio, uma corporação, é preciso que o indivíduo tenha um perfil muito peculiar, que se destaque, tendo todas as habilidades administrativas necessárias para gerar o desenvolvimento e sucesso daquela empresa. O líder deve ter habilidades técnicas, conceituais e humanas e utilizá-las como meios de promover o planejamento, a organização, a liderança e o controle dentro do negócio. Disso todos estão cientes, no entanto percebe-se que, cada vez mais, as características que qualificam o líder são também as características procuradas pelas empresas para todos os cargos que ela contempla, desde os estgiários até os diretores e administradores. Os “processos seletivos” ilustram isso; buscam perfis empreendedores, de liderança, cuja inteligência emocional ande junto com a racional.
A maioria das dinâmicas e entrevistas de emprego das grandes instituições buscam perfis extraordinários. Faculdade, pós graduação e a fluência em no mínimo três línguas já não é diferencial e é pressuposto para a maioria das vagas. Para entrar e permanecer no mercado de trabalho é preciso se diferenciar pela personalidade. Se por um lado isso faz sentido para a empresa, que pretende ter todos os seus funcionários hiper-capacitados, por outro, faz com que a maioria dos funcionários, cujo potencial e capacidade vai muito além de sua função na corporação, se frustrem com o trabalho ou com o salário que recebem.
Hoje as pessoas, cada vez mais cedo, se preparam técnicamente, entendendo e adquirindo competências no desempenho de tarefas específicas. Devido à demanda do mercado, também buscam ter o maior preparo concentual possível, desenvolvendo o pensamento estratégico e à longo prazo, processando rapidamenteo o maior número de informações possíveis, sabendo planejar-se e organizar-se, além de ter consciência do papel da organização para a Indústria, para a Comunidade e os demais Públicos de Interesse. Além das anteriores, é preciso também que o indivíduo desenvolva habilidades humanas, sabendo trabalhar em grupo e sendo eficaz como parte de um conjunto. Depois de tudo isso, o mínimo que esse índividuo esperará é o sucesso profissional, cria-se uma espectativa de que esse investimento não será em vão.
Quando uma empresa procura pessoas com esse perfil, ela visa obter uma equipe de profissionais extremamente qualificada e isso não é nada absurdo. Mas há espaço para tantos bons profissionais dentro de uma mesma coorporação? As empresas têm a capacidade de atribuir às geniais mentes contratadas tarefas compatíveis à sua alta competência. Digo que, na maioria das vezes, não. Para que haja um líder é preciso que haja também pessoas que ele lidere, pessoas que tenham aptidão para cumprir tarefas, contribuindo como engrenagem para a máquina coorporativa.
O crescimento do número de pessoas que se formam em universidades anualmente supera o crecimento de ofertas no mercado de trabalho. Junta-se a esse fato o desenvolvimento tecnoógico e digital, que torna cada vez menos necessário que os homens desempenhem trabalhos braçais ou até mesmo funções técnicas, pois isso já é suprido por recursos tecnológicos. Nesse ambiente, ganham valor e espaço atividades que envolvam inteligência, estratégia e pensamento, pois estas sim precisam do raciocínio e sensibilidade humana para ocorrerem. Se por um lado isso vangloria a capacidade racional do homem, por outro reduz ainda mais a oferta de emprego no mercado, gerando desemprego e criando situações em que pessoas muito gabaritadas acabam aceitando cargos mais simples do que poderiam excercer e, consequentemente, torna a seleção da empresas muito mais rigorosa.
As empresas têm uma gama imensa de opções para preencher um cargo e, não mais do que esperado, aproveitam isso para contratar os melhores e exigir cada vez mais de seus profissionais. Se isso é bom para o desenvolvimento das instituições, é ruim para os funcionários, que se sentem pressionados e em um ambiente de instabilidade, no qual podem ser substituidos fácilmente. A frustração de não ter oportunidade de excercer suas especialidades no limite de seu potencial começa a crescer dentre os profissionais, gerando desistímulo, que por sua fez causa ineficiência e esta não é nada positiva para as corporações.
A busca de profissionais competentes é importante para a empresa e para incentivar o desenvolvimento do país, mas isso deve ser acompanhado de reconhecimento e valorização do profissional, tornando as relações mais equilibradas.
O preto nunca foi tão verde
Há 16 anos

Bom texto.
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